terça-feira, abril 30, 2013

fragmento com adorno de cera


poesia não é artigo de luxo
tampouco artigo essencial

segunda-feira, abril 29, 2013

Porque o silêncio caminha imenso em teus lábios


fala-me para eu te saber ou te calas
que eu me mudo para o teu silêncio

domingo, abril 28, 2013

bem-aventurado o vento que me povoa


escrevo alguma coisa
não por necessidade
sequer por serventia

em dias de ventania
olhos voam para ti
céleres de companhia

sábado, abril 27, 2013

o que há de chama acende-se em elegante enleio


teu corpo me pede
verdade, verão
pois outonos virão

quinta-feira, abril 25, 2013

você se lembra quando ouvíamos as canções de belchior no toca-fitas do carro


esqueça o amor, ele não nos colore mais
nas noites frias tremem os olhos solitários
e até aquela blusa jeans desbotou no armário


Um livrinho para ser degustado: Poemas de Centauro & outros versos

quarta-feira, abril 24, 2013

fragmento para todas reminiscências


meu pai sentado
lendo jornal, fumando o cigarro
eu cresci como este silêncio: inabitável

terça-feira, abril 23, 2013

bendita a língua que afia o veio


preciso me afogar de sol
de mar, de vento,
da sutil rutilância das cores
dessas coisas que cheiram
como teu sexo encantado

segunda-feira, abril 22, 2013

Para o que nos atiça as vistas II (à guisa de um metaplagio)


em vão retirei as estrelas
mas tropeçaste
nos meus olhos distraída

domingo, abril 21, 2013

para o que nos atiça as vistas


Você não me sabe
Eu não te sei
Em meio a isso

Sutil ignorância
Afogamo-nos
Em fogo e viço

sábado, abril 20, 2013

fragmento para jasmim e entrega


quando ela me chega pele e nuvem
e silencia meus olhos de vertigem
eu fico todo prosa
e poesia

sexta-feira, abril 19, 2013

Pergaminho de Ulisses a caminho de Ítaca


Quando eu voltar deste périplo cansado
Não me olhes como Penélope abençoada
Antes retire as tramas que embalas o peito
Saibas que no oceano cruel fui das sereias
E que nesta terra que se enredaram passos
Serei sempre de nós o eterno teu deste laço

quinta-feira, abril 18, 2013

eu era o espelho de alice


I
para tocar-te as mãos
na mágica de uma palavra
que tu me vinhas
folguedo e fragmento
rio, rito, esculpido
tão dentro em mim
que nada cabia em si

II
eu sempre quis
saber o que há
por trás do espelho
mas nunca ousei


quarta-feira, abril 17, 2013

A liberdade é uma canção em chamas


depois da leitura de poemas de Lara, Tânia e Eleonora

a flor viceja em ensaios
colore a estação de cismas
neste caminho de arroio
em que mãos urgem colheita

segunda-feira, abril 15, 2013

Porque o coração é doce quando sangra


Inseto incerto no teu passo
Casulo arbitrário
Vagueio círculo absurdo

Morrem-me em ti: as mãos
Agarro-me em ausências
Sou todo afagos neste chão

sábado, abril 13, 2013

Quadra à moda antiga para moça de cabelo grená


é tão vento o teu passar
um acalanto tão lento
que eu me desinvento
entre bruma, estrela e luar

sexta-feira, abril 12, 2013

uma prosa esquecida


aquele livro de proust intragável que você me fez ler
aquele por-de-sol na barra
a cerveja no avalanche
o pastel do chinês
aquela sensação que o mundo nos pertencia
e que se perdeu
entre olhos desolados
mãos sem afago
todos aqueles dias
entre estações que não vingaram

quinta-feira, abril 11, 2013

Ária de retorno ao traço de pássaros e peixes


Apenas sei da ilha uma possibilidade
Como remoto amor, ânsia de oásis
O instante árduo em tuas espáduas

O sopro que me conduz em nuvens
Este sal que incide a pele, queima
Tão atroz feito girassol em espanto

terça-feira, abril 09, 2013

Mata-me com o olor dos teus abismos


tramam tuas tardes
que ardem
neste visgo de olhar

seiva de remoto fruto
ilha úmida que viceja

o mar que é um preâmbulo
de tantas sedes

sábado, abril 06, 2013

Nenhuma barca resiste a este rio


estive só
como se nunca
estivesses comigo

sexta-feira, abril 05, 2013

depois do tempo que houve nos ouve a memória


I (o que ouve)

oráculo em silêncio
no branco da página
o poema é só miragem

II (o que houve)

no rasgo da pele
no faro da sede
eu uivo teu nome
com visgo de língua

quinta-feira, abril 04, 2013

por mais que me sejas oração


quando me chamas
acendes o sujeito
insubordinado

quarta-feira, abril 03, 2013

Nenhuma margem abarca este rio


Mais fundo seria se eu não soubesse
Se não me atravessasses
Com este semblante de monalisa

terça-feira, abril 02, 2013

breviário para uma etimologia das sombras


a solidão é um campo de origamis
imersão para mil grous
tempo de dobrar e desdobrar-se

segunda-feira, abril 01, 2013

fragmento pungente


Éramos ela e eu
Passou o tempo
Era ela, era eu