sexta-feira, novembro 29, 2013

Decálogo para coisas de nuvem, chumbo e barro

1.a minha inexistência me perdura

2.ando desconcertado feito espinho

3.quando escuto bach eu me orvalho

4.serventia de pedra parece aleivosia

5.suspiro de lua deixa atônito o verso

6.tem sede de ventania que me cobiça

7.palavra respira nas pausas do poema

8.o olho dela tem brilho de água-furtada

9.vazante de rio dá margem ao perspícuo

10. fui salvo de mim por pássaros e girassóis

p.s. “quando eu nasci
o silêncio foi aumentado” 
(Manoel de Barros)


segunda-feira, novembro 25, 2013

Deixa-me fazer crescer a noite

Falo neste cego alfabeto de escuras mãos
Enquanto lá fora ruge tempestades
E aqui dentro me inunda tua ausência

múnus

eu te entrego o meu mínimo
o meu breve, meu inexato
a solidão de parcas palavras
eu te entrego o mister
de me tornar diverso

Para que fique claro minha advertência

Quem quiser amor comigo
Saiba que tenho o corpo
Transfigurado de cicatrizes e poemas
E não sei qual dos dois me dói mais


quarta-feira, novembro 20, 2013

poeminha para o teorema de gauss

você deveria saber
que há sal demais
em minhas mãos

e que esta melancolia
que carrego no olhar
é deserto em solidão

você deveria saber
que o vento perpétuo
corta-me a sombra

e que estas pétalas
que ora desfolho
são silêncio e sangue


Poema para amanhecer todos os líquidos

Eu choveria diante de ti
Como uma nuvem aziaga
Enquanto inscrevo
Teu silêncio nesta página


para a flor branquinha II

sob o teto das estrelas, 
sob esta luz morta
eu te guardo quieto

flor plácida
em mar alvo

sob o teto das estrelas
tenho este silêncio
de amor a meu favor 


domingo, novembro 17, 2013

Hoje choraria o rio inteiro por ti

De pertinho ela era doce
Mas era só eu me afastar 
Que ventava dentro
Uma agonia de me matar


Para um aprendizado do silêncio

Estiveste tão perto de mim
Que poderia contar
Sílabas nos teus lábios
E na tua respiração
Dourar as palavras
Em lenta epifania
Estiveste tão perto de mim
Que eu quase não me cabia


quadrinha da prova dos nove

Neste teu semblante 
de aurora
Tudo flora
Noves fora eu


para-choque de caminhão

eu não preciso saber
nada sobre mim
meu desconhecimento
me enriquece


arma zen 

AR-15 
de poeta
é palavra



papo hot

a poesia
se devassa
com a língua


haikai volátil

tão puro e sozinho
que nem
asa de passarinho


Para uma nova poética do tombo

diante 
do êxito:
hesito


para a flor branquinha

quiçá alguém encontre
o verso que perdi
quando você disse adeus
e dele faça sem demora
um poema concreto



A ilha do meio-dia

A vida vívida regia
O vento que vinha
Tudo fazia moinho

Eu regurgitava pedras
No túmulo apócrifo
Do poema

terça-feira, novembro 12, 2013

mais poemas, poemas

poeminha para misto quente numa estação do inferno

uma coisa é um poema de bukowski
outra coisa é um poema de rimbaud

não confunda
le bateau ivre
com the bluebird

toque o barco companheiro
fruição de poesia é ágil
saiba que verso é naufrágio


Elegia 

1ª. versão

Entre mim e ela
Não havia romance
Tampouco prosa
Tudo era poesia

2ª. versão

Ela nunca me deu
Chance de romance
Nem prosa havia
Era só poesia

poeminha de impossível ternura
p/ Martha

eu repetia anis, malmequer,
um blues qualquer
para te escravizar na palavra
de um poema meu

porque eu fico úmido de ti

chuva fina na retina
era o que vinha
quando tu me ias


circunavegação da ausência III

cansei de tanto gritar
para vires
agora eu me mudo

sábado, novembro 09, 2013

sobre todas as linguagens

a pele de tereza era linda
mas a língua não
a língua era muito lida
só pronunciava sofisma

sofia tinha o corpo esguio
e os olhos me capturavam
a língua lembrava um rio
só me inflamava líquidos

maria era cheia de heresia
mas tinha a língua doce
a língua de Maria
era puro verbo da ambrosia

já joana era tão omissa
escondia o corpo e a língua
mas tinha as suas venetas
acesa sabia de cor a missa

quarta-feira, novembro 06, 2013

poemas, poemas, poemas

na carruagem dos dias

eu apoio qualquer protesto
seja ele pacífico
ou atlântico

circunavegação da ausência

ela me marcou
com um silêncio
nas retinas


circunavegação da ausência II

subitamente era uma palavra
que se enroscava em teu lábio

fragmento

eu acordei silêncio
olhos mudos
vicejava em mim
um ranço de brevidade

fragmento

não perco mais tempo com mesuras
do teu corpo de labirintos
só anseio travessuras


domingo, novembro 03, 2013

fragmentos

fragmento para gênese

tenho esperança
de um dia
ser peixe,
pássaro ou árvore
e me desvencilhar
de vez
de todas as palavras


Porque a pele não se turva se tu me gostas

O verso é osso
Palavra posta
Qualquer vacilo
Fratura exposta