domingo, junho 30, 2013

Para os que nasceram sob o signo do incêndio

para Domingos Barroso e Akira Yamasaki


A nudez da pedra será um dia revelada
O sexo dos anjos
A infâmia dos justos
A mudez que blasfema
A lápide e o alicerce da palavra
Sob a cisma das horas
Sob o rasgo dos raios
Como epifania letal

sábado, junho 29, 2013

canto para gnomos e trevo de duende

abrir os olhos
por enquanto
no peito
a estrela vermelha
brinca de encantos

abrir os olhos
cerzir as manhãs
por enquanto
dois girassóis
descansam em rendição

abrir os olhos
por enquanto
há um visgo latente
nos musgos
que me tragam as mãos

sexta-feira, junho 28, 2013

como nuvem em sopro de imensidão

aqui as sílabas respiram
repousa, pois, o silêncio
deixa-me dançar a solidão

quinta-feira, junho 27, 2013

mais do que metades no silvo da relva

tenho fomes imensas
sedes que não cabem
em nenhum deserto
mas os olhos brindam
oásis, uma pasárgada
a euforia de respirar
como o peixe no cio

quarta-feira, junho 26, 2013

Há um poema morto na sala

Estou tão perto do silêncio
Que sinto o cheiro
Todos os cheiros da ausência

*****



Hay un poema muerto en la sala

Estoy tan cerca del silencio
Que siento el olor
Todos los olores de la ausência


Versão da Índigo

segunda-feira, junho 24, 2013

quando enfim curso a mão da ira

vou deixar que este mar siga
o que a nuvem singra
o que a espada vinga
o que o vento castiga
o que a palavra devasta

domingo, junho 23, 2013

o fogo do verbo a nos devorar a carne

não sei se é do sonho que nos escrevem os poemas,
mas eles nos devassam as retinas
à espera de um precipício:
ali onde o mergulho inexiste

a partir do poema Onírico de Lara Amaral

sábado, junho 22, 2013

poeminha para folguedos astrais

verás que um filho teu
não foge à lua
nem teme uivar até a morte

quinta-feira, junho 20, 2013

quase triunfal, quase marítima

minha poesia não é ode
estrofe, antítrofe e epodo
Píndaro ou Estesícoro

minha poesia não é hino
Píticas, Nemeias ou Ístmicas 
Alcman ou Anacreonte

minha poesia é o ínfimo
talvez o ócio de Horácio
ou a Lírica de João Mínimo 

segunda-feira, junho 17, 2013

quase pele, quase memória

qualquer cor
seja qual for
na cinza que arde

qualquer dor
seja qual for
mas sem alarde

II

Quase cor, quase dor

Qualquer redor
Seja qual for
Que se retrate 



Cris de Souza

domingo, junho 16, 2013

fragmento

“Sou uma emoção estrangeira,
Um erro de sonho ido…”
Fernando Pessoa

fragmento a se cumprir

queria tanto um poema
entre duas palavras:
ausência e silêncio


Assis Freitas 

sábado, junho 15, 2013

fragmento

dói sempre?
não
só quando estou comigo

sexta-feira, junho 14, 2013

nenhuma alvíssara ascende ao céu

nestes dias incomuns
tudo me transita em febre
espasmo, soslaio
incompreensivelmente
a felicidade
flerta no sinal amarelo

quinta-feira, junho 13, 2013

fragmento para amanhecimentos

eu me apoio em teu corpo
em sutil serenata
és-me tudo: sou nada

quarta-feira, junho 12, 2013

Antipoema para emblema, insígnia, delta e espáduas

Ainda não é o amor
Esta saliência nas retinas
Este fervor inaudível
Esta misteriosa invitação
Esta flauta em pólen
Todas as escalas do silêncio
Ainda não é o amor
-Este líquido canto
Este desconcerto pueril
Esta melancolia em vitral
Ainda não é o amor
- Nem mesmo as lâminas
Que brilham na cerração
Como chamas na pele
Ainda não é o amor
- Nem mesmo o avesso
De alguma coincidência
Nem mesmo o beber de ânsias
Este chão que me é mar
Este meu dormir em ti
Ainda não é amor

domingo, junho 09, 2013

toma-me neste súbito que a palavra irá defenestrar

no teu sexo me escrevo
falo em espasmos
tudo se avulta em línguas
sílabas, salivas, redescobertas

sábado, junho 08, 2013

aquilo tudo sobre os outros poemas que não te escrevi

como uma flor, um silêncio, uma solidão
tenho algas nos calcanhares, velas
corais, conchas
este fundo tão imerso
uma ária de imensidão

quinta-feira, junho 06, 2013

poética

estou tarde
qualquer dia emudeço
nem o amor salvará
o peito apertado
(que algum verso
me absolva de mim)

terça-feira, junho 04, 2013

fragmento para sucessão de espaço sem matéria

por ora nada me abarca
nenhum verso, nenhum corpo
deixai-me com meus lírios
que de vazios estou completo


A Cris me fez uma oferenda linda aqui

segunda-feira, junho 03, 2013

Revista Pessoa

Poemas meus na Revista Pessoa com ilustração de Lelena Terra e curadoria de Luiz Ruffato.

sábado, junho 01, 2013

dicionário de brevidades e alumbramentos

- chuva: sina de líquido no olhar
- lágrima: afago de retinas
- cheiro: incêndio na saliva
- orvalho: estuário de uma sílaba


A Lara Amaral me ofertou uma dádiva preciosa aqui

fragmento para vertigem e sal

carrego uma ânsia de comer o mar
e nenhum poema me navega