fragmento com adorno de cera

poesia não é artigo de luxo

tampouco artigo essencial

é uma necessidade pessoal


Olha o presente lindo que a Tania me ofertou

Porque o silêncio caminha imenso em teus lábios

fala-me para eu te saber ou te calas

que eu me mudo para o teu silêncio

bem-aventurado o vento que me povoa

escrevo alguma coisa

não por necessidade

sequer por serventia

em dias de ventania

olhos voam para ti

céleres de companhia

o que há de chama acende-se em elegante enleio

teu corpo me pede

verdade, verão

pois outonos virão

você se lembra quando ouvíamos as canções de belchior no toca-fitas do carro

esqueça o amor, ele não nos colore mais

nas noites frias tremem os olhos solitários

e até aquela blusa jeans desbotou no armário


Um livrinho para ser degustado: Poemas de Centauro & outros versos

fragmento para todas reminiscências

meu pai sentado

lendo jornal, fumando o cigarro

eu cresci como este silêncio: inabitável

bendita a língua que afia o veio

preciso me afogar de sol

de mar, de vento,

da sutil rutilância das cores

dessas coisas que cheiram

como teu sexo encantado

Para o que nos atiça as vistas II (à guisa de um metaplagio)

em vão retirei as estrelas

mas tropeçaste

nos meus olhos distraída

para o que nos atiça as vistas

Você não me sabe

Eu não te sei

Em meio a isso

Sutil ignorância

Afogamo-nos

Em fogo e viço

fragmento para jasmim e entrega

quando ela me chega pele e nuvem

e silencia meus olhos de vertigem

eu fico todo prosa

e poesia

Pergaminho de Ulisses a caminho de Ítaca

Quando eu voltar deste périplo cansado

Não me olhes como Penélope abençoada

Antes retire as tramas que embalas o peito

Saibas que no oceano cruel fui das sereias

E que nesta terra que se enredaram passos

Serei sempre de nós o eterno teu deste laço

eu era o espelho de alice

I

para tocar-te as mãos

na mágica de uma palavra

que tu me vinhas

folguedo e fragmento

rio, rito, esculpido

tão dentro em mim

que nada cabia em si

II

eu sempre quis

saber o que há

por trás do espelho

mas nunca ousei

A liberdade é uma canção em chamas

depois da leitura de poemas de Lara, Tânia e Eleonora

a flor viceja em ensaios

colore a estação de cismas

neste caminho de arroio

em que mãos urgem colheita

No Mileumpoemas

http://mileumpoemas.blogspot.com.br/2013/04/1001-62-ensaio-sobre-pactos-cactos-e.html

Porque o coração é doce quando sangra

Inseto incerto no teu passo

Casulo arbitrário

Vagueio círculo absurdo

Morrem-me em ti: as mãos

Agarro-me em ausências

Sou todo afagos neste chão

Quadra à moda antiga para moça de cabelo grená

é tão vento o teu passar

um acalanto tão lento

que eu me desinvento

entre bruma, estrela e luar

uma prosa esquecida

aquele livro de proust intragável que você me fez ler
aquele por-de-sol na barra
a cerveja no avalanche
o pastel do chinês
aquela sensação que o mundo nos pertencia
e que se perdeu
entre olhos desolados
mãos sem afago
todos aqueles dias
entre estações que não vingaram

Ária de retorno ao traço de pássaros e peixes

Apenas sei da ilha uma possibilidade

Como remoto amor, ânsia de oásis

O instante árduo em tuas espáduas

O sopro que me conduz em nuvens

Este sal que incide a pele, queima

Tão atroz feito girassol em espanto

Mata-me com o olor dos teus abismos

tramam tuas tardes

que ardem

neste visgo de olhar

seiva de remoto fruto

ilha úmida que viceja

o mar que é um preâmbulo

de tantas sedes

Revista Germina/ Abril

http://www.germinaliteratura.com.br/2013/assis_freitas.htm

Nenhuma barca resiste a este rio

estive só

como se nunca

estivesses comigo

depois do tempo que houve nos ouve a memória

I (o que ouve)

oráculo em silêncio

no branco da página

o poema é só miragem

II (o que houve)

no rasgo da pele

no faro da sede

eu uivo teu nome

com visgo de língua

por mais que me sejas oração

quando me chamas

acendes o sujeito

insubordinado

Nenhuma margem abarca este rio

Mais fundo seria se eu não soubesse

Se não me atravessasses

Com este semblante de monalisa

breviário para uma etimologia das sombras

a solidão é um campo de origamis

imersão para mil grous

tempo de dobrar e desdobrar-se

fragmento pungente

Éramos ela e eu

Passou o tempo

Era ela, era eu