quarta-feira, outubro 30, 2013

poemas esparsos

solilóquio

Diga alguma coisa
Mas não cite meu nome
Faça inventos
Procure o silêncio no arroio
E se no acaso vier
A reminiscência da palavra
Diga alguma coisa
Mas não cite meu nome


+ 1 canção para o registro do vento

eu sou o último ato
deste trágico
poema sem fim



fragmento

não mais dedicaste teu íntimo as nuvens
hoje elas soçobram no céu desavisadas
com ânsias de raios para vicejar



desista das canções de amor

lá fora a urbe e o orbe 
o tempo cobra a sorte
do desígnio demente
de se ir morrendo
lentamente

segunda-feira, outubro 28, 2013

Ária para brilho do ouro de Midas

Sangro por tantos amigos idos
Tantos desejos findos
Mas sinto olhos que flamejam
No vento pueril de uma tarde
E penso nesta urgência de vida
Antes que a noite me beije a face

domingo, outubro 27, 2013

ária para brasas e berlotas

eu cismava sozinho
quando ela passou
viciante como crack
feito incêndio de napalm
trajava sorriso sorrateiro
saia de musa gitana
piercing no lábio inferior
sandálias de couro
numa alquimia de woodstock
pensei em gritar um poema
um troço qualquer
mas ela esvoaçou
intransponível
e me deixou com
essa ventania nos olhos
que não cansa de cegar

sexta-feira, outubro 25, 2013

dentro de mim passa um rio que não se esquece

não faço escolhas
cumpro desígnios
e as palavras
não me absolvem

quinta-feira, outubro 24, 2013

canção para o registro do vento

deitei teu seio
na infância
dos meus olhos

feitiço ou aflição muda

toda dor no silêncio
é mais aguda

para bom entendedor dois versos se bastam

a dor que me povoa os passos galantes
lembram Leminski e o poema elegante

terça-feira, outubro 22, 2013

ária para apascentar holocaustos

ela olhava para o meu silêncio
e eu era todo solidão

segunda-feira, outubro 21, 2013

do soneto & da emenda

do soneto & da emenda

nunca sei de ti, nunca
mas caminhas em perdição
nas minhas palavras


do soneto & da emenda II

quase fui atropelado
por um verso
que não cabia no poema

domingo, outubro 20, 2013

Jogral para as barbas de walt whitman

fosses flor
caminho
ou pedra

ainda assim
não saberia
teu significado

mas ávido
desejo-te
como o ar

tão pleno
de vazio

e ausência

sexta-feira, outubro 18, 2013

Poema de delicados gumes

Queria ousar espelhos
Transitar no inóspito
Mar que são teus olhos

Queria velar espelhos
Transitar no áspero
Ar que tu me salivas


(Eu singro arrepios)

quarta-feira, outubro 09, 2013

Poeminha para um diálogo com a Adriana Aleixo

Da fruta furiosa em néctar

Não há segredo na saliva
Nem tudo que ela incita
Olor em viço que transita

Assis Freitas

********************

Âmago de Flor

Eu moraria em seus lábios
feito céu
açúcar e sol.

Adriana Aleixo

poeminha para um diálogo com o Domingos

A prosa espúria do homem só

De todos os poemas que escrevi
Nenhum me servirá de arremate
Ainda espero o amor que me mate

Assis Freitas

**************
antes dos sonhos

No tempo em que era noviço
livros e amores minhas ilusões.

Os livros as traças da estante
comeram e outras traças
apagaram da memória.

E os amores,
ainda hoje,
somem.

Não havia alternativa
à minha alma desiludida
senão mesmo escrever poemas.

Domingos Barroso

Poeminha para um diálogo com a Helena


Missivas à espera de remetente

Carta 1

O amor é esse bicho doido que você plantou dentro de mim. Eu disse que não queria, que não podia, mas foi tanta insistência que acabei sucumbindo. Agora estou aqui com poemas por toda a casa, o som no volume máximo ouvindo Marisa Monte, com todas essas esquisitices de um ser apaixonado. Não, não me diga que tudo isso passa. Não passa. Olha o que eu escrevi:

Essa coisa que aconteceu entre a gente
Incontinente: acho que foi ist(m)o

Vou ver as ruas, quem sabe o ar poluído me recupere de tuas purezas, dessa leveza que imantas nos gestos e nas palavras. Por enquanto hoje é sábado, neste calendário corroído de pretéritos. Te beijo com esta ânsia de tempestades.


Assis Freitas

*********************

Imensa Sorte

Lágrimas, uma sopa de lágrimas, ela prepara sem descascar uma cebola. Devagar, colher de pau girando a água na panela, vai engrossando o caldo. Lembranças, remorsos, impotência. Os três se misturando em quantidades impossíveis de mensurar. De vez em quando, uma pitada de incompreensão outra de desamparo são lançadas como quem lança um monólito no infinito e se surpreende diante do fogo que chama e queima dedos descuidados. Dedos finos, de unhas roídas, raladas pela ansiedade que zune nos ouvidos e abafa os apitos da chaleira e dos trens da infância e também o último silvo do guarda noturno em sua ronda incompatível com as nuances da cidade de vivos, mortos e indefinidos, espécie de temperos insonsos e incapazes de fazer diferença seja em um prato quente ou frio, na sobremesa ou no cafezinho servido puro, forte, amargo, e servido com ojeriza profunda aos paraísos artificiais do aspartame ou do açúcar que caria a alma e cobre de gordura a cozinha, a xícara e a verdade de que seria uma sorte se a sopa fosse de pedra.

Helena Terra

Poeminha para um diálogo com o Marco

Pronunciei teu nome ao vento
E atirei à sorte em lance de dados:
Deu silêncio

Assis Freitas

****************
ah esse vento esse vento
entra sem pedir licença
me toma por inteiro
sem esta ou aquela presença

Marco Cremasco

Poeminha para um diálogo com a Adriana

acho que cheguei tão tarde
que tudo já havia acontecido
sobrou o prato vazio
a sede no copo quebrado
a vida interrompida
a cólera: desmedida

só eu insisti em ficar
arrebol em desalinho
nuvem em assovio
argamassa de arrepios
saudação de arco-íris

Assis Freitas

*********************
... dos ratos que circulam no sótão, juntos aos abortos de risadas míopes, as flores murchas dos cadáveres, pelas comunicações eletrônicas que se cortam ao mesmo tempo que os colares de pérolas e as cordas dos andaimes ... não se atrase amor...
não se atrase.

Adriana Zapparoli

Poeminha para um diálogo com o Diego

Sigo crucificado por olhares
Silêncios, ausências
Pra todos vocês que pensam
Que eu escrevo poemas
Sinto muito decepcioná-los:
Essas palavras são apenas escarros

Assis Freitas 

************
Um relógio que regule mágoas
Um rádio que toque teus sussurros matinais
Um livro de poesia com gosto de perdão e chuva.

Diego Moraes

terça-feira, outubro 08, 2013

Poeminha para um diálogo com a Daniela

Você me disse que o
céu estava em chamas
quase em abismo
eu sorri contente
foi por um pedaço teu
que perdi o assombro
nos dentes

****************

Abismos

os olhos estão fechados
mas avistamos o abismo

as dores mesmas
ainda que belas
estendem-se em fúria

e são como pétalas
e são como bombas

que caíssem
de um céu em chamas

Daniela Delias

Poeminha para um diálogo com o Jarbas

Vivo escrevo e me repito
Porque morto só o limbo

Assis Freitas 

POETA BISSEXTO

raro escrevo.Vivo.
escrever é um verbo
intransitivo.

Jarbas Martins

Poeminha para um diálogo com a Líria

Ai amada minha
Que frio
Me percorre
A espinha
Quando alisas
As madeixas
E te enroscas
Feito gueixa
Entre brisas
Acalantos, brasas
Quando me deixas
Em mergulho
Neste rio
Que é a tua casa

Assis Freitas

*******

ó_cio

quão bom é dormir
numa cama à toa

igual a canoa
a alisar o rio

a nos transportar
para a outra margem

e sentir no dorso
o frescor da brisa

o corpo do amado
o ardor do cio

Líria Porto

Poeminha para um diálogo com a Cris


Por onde você vier
Que venha
Estou versado
Em extravios

Assis Freitas

*******
Extravio

Não lavro sem desvio
se não acho o atalho:
silencio.

Cris de Souza

Poeminha para um diálogo com Lara

Sigo cego e nu
Cismo pretéritos
Cultuo ausências
Mas não há
Nenhuma novidade
Neste silêncio

Assis Freitas

*************
refaço todos os passos...

refaço todos os passos
para te contar
algo novo

só invenção que for
para me tirar de dentro

o buraco é negro
porque estamos cegos

não há trilha
ou túnel
só o rumo exato
do inferno

há este campo vasto
sem sombra ou posto

a luz é de rachar
crânios ao meio-sonho

girando as rotatórias
em volta dos umbigos

do mato, um plano
sem guia
para cegos

Lara Amaral

Poeminha para um diálogo com a Roberta

Às vezes me dói um silêncio
Tão antigo e indelével
Feito aquela marca de batom
Que me deixaste na face
Rubro que não sangra
Mas que esmaga

Assis Freitas


*****************
O silêncio que devora a noite
é o mesmo que me come o coração,
sem preliminares.

Feito de estocadas,
golpes,
galopes surdos.

O silêncio
é um homem bruto
cuja fome esqueceu de gemer.

Vara pelas horas,
equídeo e solitário,
desmembrando-me.

Arranca, a pancadas,
um uivo negro, abortado
de caminhos que ele mutilou.

Roberta Tostes Daniel

Poeminha para um diálogo com Akira

Nada posso
Mas insisto
Vivo atalhos
Descaminhos
Sinto muito
Mas sigo

Assis Freitas

meu caminho

sigo o meu caminho
é mais forte que eu
então apenas sigo

Akira Yamasaki

sexta-feira, outubro 04, 2013

Tudo que é leve sedimenta-se no ar

És de mim este amor
A seara do inominável
Desígnios de nuvens
Orvalho de bem querer

Acordas os bemóis
Sopras ventanias
Pele do impoluto
Sede em absoluto

És de mim este amor
Fruto tão líquido
Semente ou sumo
Paradoxo do absurdo


quinta-feira, outubro 03, 2013

Balada de sereia em espera de pássaro

A raiz úmida do teu lábio
Floresce meu corpo
E vou sorvendo lento
Este hálito que me corta

Tu me inventas ilhas
Desenha girassóis
Me abre os poros
Portais de ventania

Teus dedos em cardume
Me abocanham de carícia
Fico eterno em naufrágio
Como fotografia de afogado


quarta-feira, outubro 02, 2013

Poema já antigo (à moda de Álvaro de Campos)

para Nina Rizzi

Olha Nina, quando eu morrer não digas nada
Medita em silêncio uns versos
E pensas que se pudéssemos
Teríamos enlaçado as mãos
Depois vai dar a notícia aos estranhos
Que julgavam que eu seria grande
Embora saibas que nada existe de dor
A carne, acredito, ainda é triste
E o desassossego é o meu perfume