quarta-feira, outubro 31, 2012

Haikai indo


voo sobre ti
teu sorriso
bem-te-vi 

Poeminha para sinais de castanho e ouro


As pedras gorjeiam seus limos
Despertam meu instante de ócio

Na paisagem de espera e abismo
Eu penso em estações de silêncio

No súbito de tanto alvorecimento
O céu acalenta nuvens em epifania

terça-feira, outubro 30, 2012

Breve ensaio para o gorjeio do tempo



Aquela exposição de nus: nós

segunda-feira, outubro 29, 2012

o que o amor me deu


X
o que o amor me deu:

saciado de tua graça
me embelezam os percalços

IX
o que o amor me deu:

desconhecimento que não preenche
espaço maior que esta solidão

VIII

o que o amor me deu:

decidi descer ao início
mergulhar
onde tudo era sem fim

domingo, outubro 28, 2012

o que o amor me deu



VII
o que o amor me deu:

tua palavra
teu sexo
amálgama
de quereres

VI

o que o amor me deu:

esta noite me empresta
teu olhar
para eu fazer miragem

V

o que o amor me deu:

fico parado em esquadros
na imorredoura esquina

IV

o que o amor me deu:

este lábio indelével

III

o que o amor me deu:

eu nunca fico triste
eu fico sol


II
o que o amor me deu:

tenho a natureza do limo
vivo impregnado de vazios

I
o que o amor me deu:

esta saudade de olhos
de cores, de nomes
um relato sem fim:
de mim

sábado, outubro 27, 2012

tudo me corta por um fio


de deserto e sal tenho os pés
a mão queima sob sol aziago
quem erguerá soberbo gládio
chaga inquieta deste amargo

sexta-feira, outubro 26, 2012

ensaio sobre o desconhecimento e os seus desvãos


nada ouso além deste corpo
sou esta ilha sem metáforas
nuvem magra desavisada
que me venham estrelas
eu as espanto com um sopro

quinta-feira, outubro 25, 2012

Auto de contrição para asas distraídas


o amor acontece
em desconhecimento
quando o não saber
nada em silêncio
como água a espera
de rio pra correr macio

terça-feira, outubro 23, 2012

quase lábios, quase carmim


na madrugada de desejos
sonho pétalas e folguedos
teu sexo lambuzado eu beijo

Não te faço nenhum pedido




É tão tardio o meu silêncio

segunda-feira, outubro 22, 2012

Canção desavisada para acalentar apetrechos de sonhos


Esqueço datas, nomes, horários
Sou tão ermo nos meus desatinos
Ainda assim comungo alvíssaras
Gosto de polir retinas e arrebóis
Ouvir o desassossego das pedras
Meu castigo é esta impossibilidade
Tão atroz a corroer verso e palavra

domingo, outubro 21, 2012

haikai eye in the sky


a palavra é tão doce e hoje
amanheci azul, há
melhor motivo para um blues

sábado, outubro 20, 2012

quase néctar, quase ambrosia


morre este meu silêncio
na abóbada da tua boca
o trânsito atônito de luas
das nossas línguas nuas

sexta-feira, outubro 19, 2012

Haikai de alumbramento


Qualquer palavra distraída
Nesta geografia de jamais
Olhos, pernas, teus demais


quinta-feira, outubro 18, 2012

Canção de ninar libélulas e madressilvas


Eu continuo aqui cultivando arrebóis
Alimentando os girassóis de orvalho
Neste inefável contemplar do porvir

Enquanto não me vem os teus olhos
A saliva e a sílaba são o amálgama
Do desmedido soluço de uma estrela

quarta-feira, outubro 17, 2012

Auto de imolação para invólucros imarcescíveis


As horas não duraram tanto quanto teu céu
A impor estrelas no bulício de mãos
O cisco dos astros nos olhos, o visgo, a cica
E aquela lua em teu seio suplicando dentes

terça-feira, outubro 16, 2012

antipoema para uso tópico II


O poema vive de alforria
Palavra solta, asa vadia
Cataclismo do verbo
Metáfora que rumina
Decerto não cabe na lira
Deste poeta que cisma

segunda-feira, outubro 15, 2012

quase haikai, quase leminski


um dia te esqueço completamente
no nome, na carne, na alma
mas isso tudo é tão lento, tão lento

domingo, outubro 14, 2012

quase presságio, quase invento


já não contemplo arrebóis
arde cálida a tarde
como você me sonha em tua saudade?

sábado, outubro 13, 2012

quase Gioconda, quase Marylin Monroe


hoje vi o sol como nunca tivesse visto antes
era como se todo brilho se fosse de repente
naquele sorriso de mona lisa incandescente


sexta-feira, outubro 12, 2012

notas leves para um diário minimalista III


um soluço me atravessa
e logo se evade:
saudade


quinta-feira, outubro 11, 2012

quase tudo, quase fim


nem bem me chega e eu findo
tão fundo eu fito o meu bem
e esse querer tão aflito

há dias que o sol não medra
não vicejam os arrebóis
nada atua em favor do amor

nenhuma palavra crisálida
nenhuma asa em alvoroço
nenhuma casa é repouso

nem bem me chega eu findo
ao verso me dou em olvido
lágrima de eterna remissão

há dias que não me corre rio
nada me cede a margem
não há correnteza ou arrepio

nenhuma imagem em catarse
nenhuma plenitude escrita
nenhuma alvíssara me arde

quarta-feira, outubro 10, 2012

tratado sucinto sobre a forma da nuvem II



Não te conheço a alma dos anelos
Apenas decomponho frases, anseios
E neste périplo tonto em tanto céu
Por rotas, bússolas, ácidos extravios
Me curvo aos teus lábios em desafio

terça-feira, outubro 09, 2012

notas leves para um diário minimalista II


Não precisa muito pra dizer te amo
Às vezes tudo é pouco, tudo é nada
Às vezes o mínimo é o que basta

segunda-feira, outubro 08, 2012

notas leves para um diário minimalista


para Karinne Santiago


Esta sede que me invocas
Debruçada sobre o mar
Atiça ondas e não és maga

sábado, outubro 06, 2012

poeminha para acontecer desalinhos


quando a poesia te amanhece
em sutil e inconsútil disfarce
voo para ti em brisas e lilases
no emaranhado de uma frase

sexta-feira, outubro 05, 2012

canto agônico no jardim do Hades


o homem que te amava morreu
foi para o mar, atirou-se nuvens
fez trilho e trem, faca nos olhos
lamina no pulso, flor no pulmão
persignou disparo, cancro raro
pó e cicuta, arsênico e cianeto
serpente do Nilo, corda de forca
invadiu sinal, perdeu o elevador
flutuou na ponte, imolou serrote
ardeu o coração, bala na fronte
espera rijo a nau do Aqueronte

quinta-feira, outubro 04, 2012

Antipoema para adorno de cera


Mais um dia, outro dia
E eu tão só, sozinho
Asa sem passarinho

quarta-feira, outubro 03, 2012

Haikai de entrega


Ouve os elogios do amor
A nuvem canta ao ouvido
Nestes versos sem sentido

terça-feira, outubro 02, 2012

Poeminha tão besta, tão besta


Tanta flor havia ali
No poema no caqui
Os teus olhos parati
O soslaio para mim

segunda-feira, outubro 01, 2012

solilóquio pra cacaso


minha pátria é arquipélago de nadas
um mergulho no vazio
o bolso cheio de abismos