terça-feira, dezembro 10, 2013

fragmentos para dulcinéia

fragmento para dulcinéia X

meus ossos se inflamam
minha senhora
há um veio de chamas
a correr insone por eles

fragmento para dulcinéia IX

de fidalguias construo um reino
minha senhora
assim como quem cultivasse
orquídeas no mais fino arrebol


fragmento para dulcinéia VIII

tua água que me banha
minha senhora
não transborda líquido
eu me afogo em teu olvido


fragmento para dulcinéia VII

eu fico mudo de imagens
minha senhora
cai o mundo em desvelo
quando sinto o teu cheiro

fragmento para dulcinéia VI

minha sede, minha fome
minha senhora
são teus olhos de sabiá
e o meu vazio teu soslaio

fragmento para dulcinéia V

para tantas ilhas prometidas
minha senhora
meus remos se arriscam
por rumo tenho o arco-íris

fragmento para dulcinéia IV

com um novelo de nadas
minha senhora
eu remendo girassóis
na tarde do nunca mais

fragmento para dulcinéia III

na palavra eu te esquartejo
minha senhora
por ti gorjeio, solfejo
quiçá um dia adejo

fragmento para dulcinéia II

estou cego para caminhos
minha senhora
e estes dragões azuis
me consomem o peito
  
fragmento para dulcinéia

na hora que eu fui embora
minha senhora
ventou aflição de moinho
no meu passo rocinante

8 comentários:

dade amorim disse...

Belezura, Assis! Amor muito bem dito.

Beijo

Lídia Borges disse...


Reparei no movimento decrescente, nas voltas de um Quixote a quem parece não faltar a lucidez.

Bj

Cris de Souza disse...

Fragmentos de um todo fabuloso!

Beijo, Mestre.

Ira Buscacio disse...

Quixote jamais amaria melhor...

gigantemente lindo!
bj poetaço

Cecília Romeu disse...

Assis,
muito belo!
Fragmentos de resistência, não ao amor, mas ao fim dele...
e assim, faz-se mais do amor para que não reste apenas dor...

Beijos!

Unknown disse...

mandamentos para sussurro, suspiro e pós-amor - que é outra forma de dizer "voltar a viver".

abraço quixotesco para jamais desacreditarmos de moinhos, do vento e de tudo o que nos faz correr.

Teté M. Jorge disse...

Imprescindível!!!

Beijos.

José Carlos Sant Anna disse...

Maravilha, Assis, a abolição das fronteiras do tempo para revivificar a l´rica tradicional renovando-a...
Abraços, poeta!