fragmento para dulcinéia X
meus ossos se inflamam
minha senhora
há um veio de chamas
a correr insone por eles
fragmento para dulcinéia IX
de fidalguias construo um reino
minha senhora
assim como quem cultivasse
orquídeas no mais fino arrebol
fragmento para dulcinéia VIII
tua água que me banha
minha senhora
não transborda líquido
eu me afogo em teu olvido
tua água que me banha
minha senhora
não transborda líquido
eu me afogo em teu olvido
fragmento para dulcinéia VII
eu fico mudo de imagens
minha senhora
cai o mundo em desvelo
eu fico mudo de imagens
minha senhora
cai o mundo em desvelo
quando sinto o teu cheiro
fragmento para dulcinéia VI
minha sede, minha fome
minha senhora
são teus olhos de sabiá
e o meu vazio teu soslaio
minha sede, minha fome
minha senhora
são teus olhos de sabiá
e o meu vazio teu soslaio
fragmento para dulcinéia V
para tantas ilhas prometidas
minha senhora
meus remos se arriscam
por rumo tenho o arco-íris
fragmento para dulcinéia IV
com um novelo de nadas
minha senhora
eu remendo girassóis
na tarde do nunca mais
fragmento para dulcinéia III
na palavra eu te esquartejo
minha senhora
por ti gorjeio, solfejo
quiçá um dia adejo
na palavra eu te esquartejo
minha senhora
por ti gorjeio, solfejo
quiçá um dia adejo
fragmento para dulcinéia II
estou cego para caminhos
minha senhora
e estes dragões azuis
me consomem o peito
fragmento para dulcinéia
na hora que eu fui embora
minha senhora
ventou aflição de moinho
no meu passo rocinante
8 comentários:
Belezura, Assis! Amor muito bem dito.
Beijo
Reparei no movimento decrescente, nas voltas de um Quixote a quem parece não faltar a lucidez.
Bj
Fragmentos de um todo fabuloso!
Beijo, Mestre.
Quixote jamais amaria melhor...
gigantemente lindo!
bj poetaço
Assis,
muito belo!
Fragmentos de resistência, não ao amor, mas ao fim dele...
e assim, faz-se mais do amor para que não reste apenas dor...
Beijos!
mandamentos para sussurro, suspiro e pós-amor - que é outra forma de dizer "voltar a viver".
abraço quixotesco para jamais desacreditarmos de moinhos, do vento e de tudo o que nos faz correr.
Imprescindível!!!
Beijos.
Maravilha, Assis, a abolição das fronteiras do tempo para revivificar a l´rica tradicional renovando-a...
Abraços, poeta!
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