fragmento para dulcinéia XX
no dia que vogarem meus pés
minha senhora
por sobre o silêncio do mar
não haverá abismo que me salve de ti
fragmento para dulcinéia XIX
deixa-me acariciar teu soluço
minha senhora
tecer o arrebol de esperas
com tua caligrafia de espinhos
fragmento para dulcinéia XVIII
há uma desventura nos meus ossos
minha senhora
uma cortina de líquidos no olhar
sofro a véspera de te fazer amanhecer
fragmento para dulcinéia XVII
já tive meu quinhão de nuvens
minha senhora
agora me destino às pedras
estou apegado a um silêncio sólido
fragmento para dulcinéia XVI
não cabe na língua tanta paixão
minha senhora
escavei meu peito até a incompletude
agora uma flor me pulsa nas veias
fragmento para dulcinéia XV
és a substância dos anelos
minha senhora
toda a avidez do singelo
por ti intempéries hei de cativar
fragmento para dulcinéia XIV
eu vivo com este enigma
minha senhora
de te fazer miragem
no silêncio dos meus olhos
fragmento para dulcinéia XIII
eu não sabia de onde vinhas
minha senhora
até o destino me por na estrada
com este visgo do inalcançável
fragmento para dulcinéia XII
não há rocio que me assombre os passos
minha senhora
debruço-me em teus eflúvios
deixa-me ser líquido para teu rio
fragmento para dulcinéia XI
circulam teus ares nos meus passos
minha senhora
desfolho estrelas em solidão
padeço assim de amanhecimentos