segunda-feira, dezembro 10, 2012

Quase lygia telles, quase ficção


Era uma história assim. Quase história. Ela me contava. Era sobre a Lígia. A Lygia, a escritora. Mas era uma história real. Parecia que sim. A mulher saía do cinema e se dirigia para casa. Era no Rio de Janeiro. Caminhava pelo passeio, caminhava.
De repente percebeu que dois rapazes numa moto a estavam seguindo. Percebeu, mas não queria acreditar. Os rapazes a olhavam. Ficavam a uma distância propícia para o sobressalto. A mulher caminhava, agora em passos mais rápidos. O edifício estava próximo, tão próximo, mas a distancia dos olhos era inalcançável pelas pernas.
A mulher tremia e apressava-se. Apressava-se. A mulher tremia, temia. O portão do edifício, o portão. Era ali tão pertinho. A mulher de repente correu mais que as pernas. Encontrou uma força além do físico. Agora já era do outro lado do portão, fechado. Ela, a mulher, olhou para trás e viu os dois rapazes. Os dois rapazes da moto. Até que ouviu a voz de um deles num grito: “Lygia Fagundes Telles nós te amamos”.
A mulher não conseguia encontrar olhos para chorar.



8 comentários:

Everson Russo disse...

Uma ficção é sempre bom pra agitar a vida...abraços de bom dia.

Tania regina Contreiras disse...


Isso é lindo! :-) E eu que ando correndo de medo e não a Lygia, fiquei sem saber se continuo a correr ou paro...:-)
Beijos,

Ira Buscacio disse...

Ficção bonita vira realidade. Tenho certeza que Lygia confirmaria a história.
bj, poetaço

Eleonora Marino Duarte disse...

só a frase final («A mulher não conseguia encontrar olhos para chorar.») já teria me valido a visita, mas ainda levo de presente a prosa lírica encantadora do poeta Assis!


bravo!!!


um beijo.

Lau Milesi disse...

Ai poeta Assis, me deu um medo essa coisa linda que você escreveu.Aqui no Rio tem essas coisas mesmo. Você sabe que agora "pintou" uma mulher que me persegue.Ela vai ao meu blog, pega as "minhas palavrinhas" e faz poesia.Mas fico com um medo dela.A minha família toda está em estado de alerta. Lembram do Lennon,coitado... com aquele stalker.
E o pior é que ela antes era minha amiguinha. Me visitava, era tão carinhosa...tão...

Desculpe falar uma coisa tão feia num conto tão lindo.

Um beijo, poeta Assis.

Vim comentar aqui, pulei do face.:))_

Lídia Borges disse...


Gosto da prosa.
Um final surpreendente!
O que nos fará correr tanto, quando é e quando não é preciso?


Um beijo

dade amorim disse...

Uma história bem plausível. História de fans, e a gente nem acredita.
Bj.

Cris de Souza disse...

Repito: Surpreendente!